Você conhece o Mulatão?
Localizado no distrito de Deserto, no município de Itapipoca - CE, a região é palco das obras da escritora Cláudia Melo
O Mulatão é uma localidade no distrito de Deserto conhecido pela sua paisagem sertaneja; a região, onde cresceu a escritora Cláudia Cunha Melo Barros, serviu de inspiração para a criação de seus livros, dentre eles: A menina que devolvia livros (Karuá, 2020), A menina e a roda de histórias (Karuá, 2022), O bem-te-vi e a guardião da natureza (no prelo).
Fonte: IPECE (modificado)
O caminho
CE-240 entre Trairi e Itapipoca
Estrada concluída em 2023
Estrada vicinal de acesso ao Mulatão pela CE-240
A chegada
Cajazeira Encantada
Acesso pelo São Jerônimo, Rumo ao Mulatão. É necessário observar a placa na BR com o nome da localidade.
Campo de Várzea do Mulatão
O lugar de memória
Cajueiro “Frondoso”, situado no sítio de Dona Emília Ribeiro Cunha, mãe de Lucimar Ribeiro Cunha e avó de Cláudia Cunha Melo Barros.
Pimenteira Centenária, plantada por Dona Emília e cultivada por seu filho, José Amédio Cunha.
EEB Alfredo Afonso Cunha, recebeu esse nome em homenagem ao tio-avô de Cláudia, que disponibilizou o terreno de construção da escola e por acreditar na importância da educação.
Sobre Afetos
Emília Ribeiro Cunha
cearense, nasceu no dia quinze de setembro do ano de mil novecentos e quinze, em São João de Uruburetama, fronteira com Itapipoca. Filha de Ângelo Ribeiro Magalhães e de Maria Francisca da Penha, casou-se aos dezessete anos com Raimundo Adolfo Cunha, com quem teve doze filhos: Maria, Franciné, Matilde e Laura (in memoriam); Francisco, João, Lucimar, Maria do Socorro, Nélio, Antonio, Raimunda e José Amédio. Fixou morada no Mulatão, zona rural de Deserto, em Itapipoca-Ceará, falecendo aos setenta e nove anos.
Durante sua linda jornada, banhou-se nas águas do riacho Severino, conviveu com a fartura do bananal presente em seu quintal, deliciou-se com a diversidade das fruteiras, como a mangueira, a melancia, a goiabeira; saboreou mel de cana-de-açúcar e farinha. Apenas uma fruta favorita não tinha em seu quintal, laranja! Não frequentou a escola, rara e destinada aos poucos afortunados do lugar, mas aprendeu de tudo que uma mulher de seu tempo precisava para criar uma família. Uma vez ao ano, levava sua prole à sede de Itapipoca, direto para a Igreja matriz na festa de Nossa Senhora das Mercês. Rezava o terço em sua camarinha.
Educou os filhos com firmeza de caráter e ética, ao prepará-los para o trabalho, o respeito às leis de Deus e devoção a Maria, mãe de Jesus. No dia a dia cultivava seu pomar, aguando uma por uma as frondosas árvores; preparava o alimento e o servia a todos de casa e aos que chegavam, pois era sempre visitada por familiares, amigos e trabalhadores que a ajudavam na farinhada. Homens e mulheres tinham respeito e afeto por dona Emília, Mãe Mília e Mimilha, carinhosamente assim chamada por seus netos, que amavam provar de seu “capitão”, um bolinho de feijão com farinha, que ela apertava com a mão e servia aos pequenos. Emília foi uma mulher aguerrida, ficou viúva cedo e cuidou com maestria dos dois mil e duzentos h/a da Fazenda São João, no Mulatão.
Emília Ribeiro Cunha
Medo não cultivava e as mangueiras centenárias testemunhavam sua força, disposição e talento de contadora de histórias, caçadora e cultivadora. Uma mulher que abraçou sua família e com amor, fé e esperança, passou um legado ancestral indígena, das mulheres fortes que construíram seu próprio legado. Lucimar Ribeiro Cunha, sua filha, foi a primeira a estudar na Escola Normal Rural Joaquim Magalhães, no início dos anos 1960, não finalizou seus estudos, mas aprendeu com Emília a ser fortaleza e a não esmorecer diante das intempéries da vida. À neta, escritora Cláudia Cunha Melo Barros, nascida na casa de “vó Emília”, repassou as instruções da cultura de amor à natureza, do cuidado com a terra, com a pimenteira da vó, que reina imponente até os dias de hoje! Com Emília, aprendeu a rezar e, principalmente, a ser poeta, ouvindo as cantorias, memorizando as orações, ouvindo histórias, ao som da lamparina, recebendo cafuné em seu colo. Assim, o legado ancestral se estabeleceu pelas mãos, voz, oralidade e coração gigante de Emília, eternizada como Patronesse na Academia de Letras de Itapipoca, por sua neta, escritora e contadora de histórias, Cláudia Melo.
Emília Ribeiro Cunha e Raimundo Adolfo Cunha, avós maternos de Cláudia.
Academia de Letras de Itapipoca - ALITA
Fundada em 2024, tem como patronese Emília Ribeiro Cunha, tendo a escritora Cláudia Melo como uma de suas fundadoras, ocupando a 3ª cadeira da academia.
Posse dos membros da academia